Um dia eu viajei para o Brasil

Eu peguei o primeiro avião com destino à felicidade. - Foto: Fábio De Nittis

Eu peguei o primeiro avião com destino à felicidade. – Foto: Fábio De Nittis

Era setembro, tinha tido Dia do Brasil no sábado anterior. Resolvi comprar passagens para o Carnaval sem nem saber se teria dinheiro para continuar morando em Buenos Aires até fevereiro, porque planejar mais que um ou dois meses à frente, na atual fase da minha vida, anda impossível. Em janeiro resolvi alterar a data da passagem para ficar 11 dias em São Paulo, depois de 11 meses sem dar as caras na cidade que eu nasci e vivi a vida toda.

Chegou o tão esperado 6 de fevereiro. Um dia lindo em que acordei antes de amanhecer, me arrumei, peguei a mala, peguei o ônibus e enfim pisava no Aeroparque. Depois de umas dez vezes indo lá buscar e levar amigos, me emocionar com encontros e despedidas, chegava a minha vez de voar rumo à minha cidade.

O voo atrasou. Quando o avião acelerou na pista, meu coração também foi a 1.000 por hora. Olhei pela janela, vi a linda Buenos Aires ficando pra trás, lembrei porque gosto tanto desta cidade. Na tentativa de controlar a ansiedade, peguei a revistinha de entretenimento da companhia aérea. Para a minha surpresa, trazia a programação dos blocos de Carnaval em várias cidades, inclusive São Paulo. O melhor disso? eu estaria lá. Minutos deppois surge guaraná no serviço de bordo. Gente, eu nem era de tomar muito guaraná, mas quando vi ali e tomei, parecia a melhor coisa do mundo.

Horas depois, e com mais um pouco de atraso pelo tráfego aéreo de Guarulhos, pousei. Reencontrei minha família. Eu não via meu pai e meu irmão desde julho. Minha mãe, então, desde maio. Parecia um sonho. Logo depois veio a estranheza: ouvir e ler tudo em português, andar pelo bairro onde morei 23 anos e ver tanta coisa diferente. Esta sensação de estranheza me acompanhou nos dias seguintes, quando usei ônibus, metrô. E começaram a acontecer coisas do tipo: me perdi no terminal de ônibus que usei tantas vezes porque mudaram os pontos das linhas. Outro dia, cheguei no ponto da linha que sempre pegava. Um senhor me questionou se o ônibus passava na avenida tal. “Desculpe, não sei, não moro aqui”, foi a minha resposta, que ficou ecoando por minutos na minha cabeça. De fato, São Paulo já me parecia meio estranha porque não é mais a cidade que eu moro.

E sobre isso, soa coxinhice e é difícil de explicar. Óbvio que em umas semanas eu voltaria a me sentir em casa como se nunca tivesse havido Buenos Aires. Mas São Paulo não é mais a cidade que moro pra eu me sentir 100% à vontade. Visitar minha cidade natal foi… DIFERENTE. Esta é a palavra! E esse é o motivo do desconforto: achei que 11 meses não seriam suficientes pra achar nada diferente. E é engraçado: me senti indo da minha casa para a casa ao mesmo tempo em que me sinti sem pátria, por não me sentir 100% daí nem 100% daqui. E nunca serei.

Nos dias no Brasil eu voltei a comer a comida da minha mãe, vi familiares, vi amigos e cantei e dancei em blocos e mais blocos. Porque uma coisa não muda, caros amigos: a paixão pelo Carnaval (lembro que falei pros meus amigos que, acontecesse o que tivesse que acontecer, mas em 2015 eu estaria no Carnaval paulistano). Voltei a dormir na cama que sempre dormir, a estar numa zona de conforto de pensar apenas em trabalhar (porque não peguei folga) e me divertir, sem pensar em contas, em burocracias para resolver, em problemas de adulto. Foi um descanso mental necessário.

Voltei para Buenos Aires com o coração na mão de saber que toda aquela gente querida não estaria mais presente no meu dia-a-dia, mas já com saudades das terras portenhas. E voltei com a mesma sensação que sempre tive, desde que comecei a querer vir viver aqui: que, na verdade, eu queria estar 50% em São Paulo e 50% em Buenos Aires. Como o teletransporte ainda não existe, espero que as companhias aéreas baixem preços e permitam que essa distância se faça menor.

Que ano, amigos!

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Eu, Gré e Breno. You can’t sit with us – Foto: marido da Gretchen

Quando o primeiro segundo de 2014 chegou, eu estava de bermuda e camiseta branca no meio do Réveillon da Avenida Paulista, o meu lugar preferido em São Paulo. Acompanhado de dois amigos, eu dizia que enfim chegava 2014. Foram anos esperando este momento.

Dali seis dias, bem no dia do meu aniversário, voava com duas amigas para o Rio de Janeiro para comemorar, encontrar mais amigos, aproveitar os dias nas praias na Urca, em Ipanema, em Copacabana, na Barra. Ver o pôr do sol no Arpoador. Ir pras festas. Dormir em hostel. Descansar a cabeça depois de quatro anos de trabalho, sendo os últimos três sem férias. Comemorar o fim da faculdade.

Voltei. Teve a formatura. Dias depois, o visto para entrar na Argentina como morador. No dia seguinte, a realização de um sonho: estava embarcando em um voo da TAP rumo à… Europa. Junto com um amigo, conheci toda a sofisticação de Paris, tomei champagne, subi na Torre Eiffel em dia de tempestade, fingi ser rico. Tão incrível que até hoje não acredito que tenha sido verdade. Encontrei a Maria Odete, também conhecida como Gretchen, ou Rainha do Rebolado, como vocês podem ver na foto acima. De lá, rumo ao Marrocos. Depois de um ano fazendo TCC sobre islamismo, foi indescritível ver o choque cultural pessoalmente. Tiramos fotos com cobra, chamamos tudo de Jade em referência à novela, andamos de camelo, dormimos no Saara. Dias depois, era a vez de Madrid. E mesmo com todo aquele frio, as ruas parecendo formigueiro com este estilo de vida tão encantador da Espanha. Encontrei uma amiga da faculdade que estava por lá e teve altas festas, teve karaokê no palco, teve sangria. Depois foi a vez de Portugal, com sua comida boa, suas cidades aconchegantes e aquela sensação estranha de falar a língua nativa estando do outro lado do oceano.

Voltei numa segunda, na sexta já era Carnaval. Outros quatro dias de folia, entre marchinhas e Lepo Lepo, com pés cansados e essas mil histórias de cada Carnaval. Na semana seguinte, as despedidas, a colação de grau da faculdade e, dias depois, a mudança para a Argentina. Aproveitei tanto que nem sei como aguentei. A vida cobraria toda essa zoeira meses mais tarde, mas valeu a pena. Viveria tudo com a mesma intensidade de novo.

Meu visto de morador, a coisa mais linda – Foto: Fábio De Nittis

 

E aqui, quantas fases, quanta coisa aconteceu! Os primeiros dias, com o meu pai aqui, ainda me sentia turista. Logo iniciou toda aquela fase de adaptação desde coisas minúsculas, tipo ir ao supermercado, até acostumar bem com o idioma, se sentir seguro para procurar emprego, aprender a morar sozinho.

E, ao contrário do que as pessoas acham, morar fora quando você é o único responsável por si mesmo, não é folia. Não é fácil sair totalmente da zona de conforto e mudar de país sem saber cozinhar, sem ter morado sozinho, sem estar matriculado em um curso, sem ter trabalho, sem conhecer ninguém. Eu tive um ano bem difícil, na verdade, e a sorte muitas vezes passou longe. Levei calote, tive inúmeros problemas nos dois apartamentos (tipo entupir encanamento, furar o termotanque e ficar sem água quente no inverno e por aí vai), conheci gente aproveitadora, tive atraso de pagamento, entre outros problemas. Passei muitos sábados à noite sozinho em casa e triste, me afastei dos meus divertimentos favoritos de quando eu morava no Brasil, me questionei inúmeras vezes se o que eu estava fazendo era certo. Passei o ano acordando, vestindo uma armadura fingindo ser forte até isso ir se tornando verdade, passei estes nove meses aqui exausto mentalmente com tantas novidades, fossem boas ou ruins, e me decepcionei por 2014 não ter se resolvido rápido.

E como senti saudade dos meus amigos, das festas, da minha São Paulo, da Avenida Paulista e da Augusta, do meu dinheirinho rendendo na poupança e da minha zona de conforto de estar no mesmo emprego, na mesma faculdade. E a família? Sempre morei com eles e faz sete meses que não vejo minha mãe, por exemplo, que tenho forte ligação. Faz nove meses que não abraço meu cachorro. Não pude estar presente no aniversário de 18 anos do meu irmão e nem estarei sentado à mesa na Ceia de Natal, porque passarei as festas de fim de ano aqui. E esta é a parte mais difícil: a distância e a saudade.

Eu adoro este ângulo - Foto: Fábio De Nittis

Eu adoro este ângulo – Foto: Fábio De Nittis

Buenos Aires tem sido a cidade onde estou aprendendo a ser adulto. E me sinto sortudo de poder passar essa fase aqui. Ainda choro de emoção ocasionalmente quando passo pelo Obelisco, sinto fome à 1h e saio na rua tranquilamente e com frequência para comer, aproveito parques, encontro a paz na beira do rio e não paro em casa quando tenho tempo livre. Na época de frio, sentia aquele ar gelado no rosto, aproveitava as cafeterias, reparava nas folhas amareladas de outono e depois nas folhas sem galhos. Aproveito este estilo de vida que eu tanto gosto, de aproveitar o espaço público, de horários sempre muito tardios, de ruas parecendo formigueiros, desde jovens em grupo indo para balada, até pessoas correndo, passeando com cachorros e velhinhas que se reúnem para se encontrar no café para horas de papo.

Aqui aprendi que tudo tem seu tempo e que cada pequena conquista faz surgir um sorriso no rosto. Quando começaram as primeiras interações com as pessoas daqui, quando os motoristas de ônibus passaram a me entender de primeira ao pedir a tarifa do ônibus, quando não me gritam “câmbio” na rua Florida porque já não esbanjo estrangeirice, quando conheço um lugar novo na cidade. E, claro, as grandes conquistas: quando consegui mudar de apartamento sem ser passado pra trás, quando comecei a ter minhas primeiras rendas em pesos argentinos, quando tive os primeiros meses que consegui fechar as contas com trabalho, e não dinheiro que trouxe, e tantas outras.

2014 foi um ano que me amadureceu, embora eu não saiba medir o quanto. Acho que viver em outra cultura é enriquecedor e vir como eu vim me fez mais responsável. Aprendi que são poucas as pessoas verdadeiramente amigas e que a gente não pode contar com quase ninguém. Aprendi que a gente é capaz de resolver problemas e só descobre isso quando está no meio deles. Também me dei conta que é preciso ter autoestima e cara de pau, algo que em muitos momentos eu falhei e fez com que eu me fizesse de vítima dos acontecimentos do ano. E ainda tem mais 17 dias até a linha de chegada, que prometem muitas novidades.

Quando 2015 chegar, estarei sem ter a menor ideia do que será da minha vida nos 365 dias seguintes. Não sei se fico, não sei se volto, não sei se conseguirei visitar São Paulo, se farei outras viagens, não sei se vou ter dinheiro, não sei o que faço da carreira, não sei quantos amigos vou fazer, quanto vou aproveitar. Tenho chegado à conclusão que nem tem muito como saber, a vida é dinâmica e fica de brinks mudando tudo de uma hora pra outra. Só uma coisa está decidida: em 2015 vou ser feliz. Não importa como, nem onde.

Um excelente fim de ano para vocês, com um Natal abençoado e de paz e um 2015 de positividade e de astros jogando a nosso favor. Pode vir, 2015, MAS, SOCORRO, SEJA MAIS FÁCIL QUE SEU ANTECESSOR!!!

Como andar em Buenos Aires: a pé

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Principais avenidas da região central de Buenos Aires

Para mim, o melhor jeito de conhecer Buenos Aires é andando. Mas sou suspeito para falar porque já andei coisa de 15 km numa tarde numa das vezes que vim por aqui. E explico as razões:

1- Os quarteirões tem o mesmo tamanho
Na parte central de Buenos Aires, os quarteirões tem mais ou menos o mesmo tamanho, como ilustra o mapa acima (estes quadradinhos cinzas). Cada quarteirão tem uma numeração de 100. Por isso, dá para ter uma boa noção do quanto se vai andar: se você está no número 1.000 e tem que andar até o 200 da mesma rua, já sabe que são oito quarteirões pela frente.

2- A numeração diminui sentido centro da cidade
Isso é bom para quem, assim como eu, vive errando o sentido que tem que ir. Nas ruas que no sentido leste-oeste (como a Corrientes, a Avenida de Mayo, a Santa Fé, a Córdoba, entre outras), a numeração diminui sentido centro da cidade. Nas que cortam a cidade de norte para sul, a numeração diminui indo na direção da Avenida Rivadavia e aumentando quanto mais se afasta dela.

3- Algumas avenidas servem de referência
Sabendo o nome de algumas avenidas, dá para se localizar bastante bem por aqui, como destaquei no mapa. Nas avenidas que vão sentido leste-oeste, há a Avenida Independência na parte sul, quatro quadras para cima é a Belgrano, mais quatro quadras a Rivadavia, outras quatro quadras a Corrientes, mais quatro e se chega à Córdoba e mais três se chega à Santa Fé, já na parte norte da cidade. No sentido norte-sul, as avenidas e ruas mudam de nome ao cruzar a Rivadavia. A Paseo Colón vira a Leandro N Além, a Entre Ríos vira Callao e por aí vai.

4- Tudo quanto é prédio é bonito
Andar ainda traz esta vantagem: se o turista olhar para cima, vai ver que prédios comuns, que abrigam escritórios, redes de fast-food ou colégios têm uma arquitetura linda, embora não sejam turísticos.

5- A CIDADE É PLANA
Deixei pelo fim porque é o melhor: a cidade é inteirinha plana. Quando tem subida/descida é quase imperceptível. Ou seja, andar não cansa 😉

Como andar em Buenos Aires: de táxi

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Quando vim em 2008, pela primeira vez, o número de táxis foi uma das coisas que mais chamou a atenção – Foto: Fábio De Nittis

Muita gente na hora de vir para Buenos Aires preza pelo conforto. Outros acabam recorrendo ao táxi pela agilidade ou para fugir do frio de julho ou do calor de janeiro.

Os táxis aqui são pintados de amarelo e preto. Qualquer um identifica ao colocar os pés em Buenos Aires porque tem bastante táxi mesmo. E para pegar, é simples: basta estender o braço. Pode-se dar o endereço exato para o motorista ou, como os moradores fazem, dar o cruzamento mais próximo do local que você pretende descer.

E tem golpe? Para ser sincero, só tive problema com táxi uma vez que peguei no aeroporto: o taxímetro pulava mais rápido que o comum. Uns anos atrás falava-se muito nos blogs de viagem daqui em golpe de pegar a nota de 100 pesos do turista, substituir rapidamente e devolver uma nota de 100 falsa, informando que a nota era falsa. Não sei se ainda rola, não conheço ninguém que tenha caído, nem tenho visto alerta quanto a isso, mas sempre bom estar atento. Também dizem que é mais confiável pegar táxis de companhias, ou seja, os que tem número de telefone (pela possibilidade de poder reclamar depois). Mas é tranquilo, gente.

Quanto custa o táxi em Buenos Aires?

Por causa da inflação, temos importantes aumentos várias vezes ao ano. Nestes nove primeiros meses de 2014, por exemplo, o aumento foi de 30%. Os preços de novembro de 2014 (com cotação oficial) são os seguintes:

Bandeirada de dia, das 6h às 22h: 14,30 pesos (R$ 4,15) + 1,43 peso (R$ 0,41) a cada 200 metros.
Bandeirada de noite, das 22h às 6h: 17,10 pesos (R$ 4,95) + 1,71 peso (R$ 0,50) a cada 200 metros.

Para saber mais ou menos o preço da corrida, há um site muito bom chamado: Viajo en Taxi.

Consultando este site, fiz uma pesquisa entre alguns pontos importantes durante o dia, partindo do Obelisco:

Obelisco-Casa Rosada: 29 pesos (R$ 8,40)
Obelisco-Puerto Madero: 31 pesos (R$ 9)
Obelisco-San Telmo: 39 pesos (R$ 11,30)
Obelisco-Abasto: 48 pesos (R$ 13,90)
Obelisco-Plaza Francia: 57 pesos (R$ 16,50)
Obelisco-La Boca: 67 pesos (R$ 19,40)
Obelisco-Plaza Italia: 68 pesos (R$ 19,70)
Obelisco-Plaza Armenia: 73 pesos (R$ 21,15)
Obelisco-Aeroparque: 83 pesos (R$ 24,05)
Obelisco-Barrio Chino: 106 pesos (R$ 30,70)
Obelisco-Aeroporto de Ezeiza: 283 pesos (R$ 82)

Como andar em Buenos Aires: de ônibus

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Ônibus de Buenos Aires – Foto: Fábio De Nittis

Se andar de metrô por Buenos Aires, de ônibus a coisa já não é tão simples assim para quem é turista. Mas também não é nada de outro mundo. E, por exemplo, para ir ao La Boca compensa em vez de pagar o táxi, que sai bem mais caro, especialmente para quem se hospeda pros lados de Palermo. Então vamos às explicações:

– Em Buenos Aires se vê ônibus pelo número da linha
Deve ser assim na maioria das cidades do Brasil e do mundo. Mas em São Paulo a gente costuma decorar o ônibus geralmente pelo destino (e só se dois ônibus têm o mesmo destino é que prestamos atenção no número da linha). Aqui é pelo número, mas é um número curtinho: de um a três dígitos.

– O letreiro principal não indica o sentido do ônibus
Geralmente o letreiro do ônibus vem com o número grande e uns 4 bairros, e o letreiro não muda. Isso acontece mesmo nos ônibus de letreiro digital; as empresas mantêm este esquema. Então não dá para saber o sentido que o ônibus está indo. Em algumas linhas há uma placa pequena embaixo, na frente, que às vezes diz.

– O pagamento é em moeda para quem não tem o cartão
Quem mora aqui usa o SUBE, que é o pagamento no transporte público por meio de cartão (como o Bilhete Único). Minha recomendação para o turista é adquirir este cartão, que está na faixa de 20 pesos (R$ 5,75) em um dos seguintes lugares do mapa de centros de obtenção do SUBE. Caso contrário, a tarifa é maior e o pagamento é em moedas de até 1 peso. Mas é muito difícil juntar moeda aqui. Tanto que nos mercados sempre arredondam os centavos.

– Sobre o valor da tarifa
A tarifa em Buenos Aires varia conforme a distância a ser percorrida. Por isso, subimos no ônibus e falamos para o motorista até onde queremos ir para saber o valor da tarifa ou, se já sabemos, falamos diretamente o valor. Para turista, recomendo dizer o destino, inclusive para poder confirmar o sentido do ônibus e se aquela linha realmente passa lá. As tarifas são as seguintes (preços e cotação oficial de outubro de 2014):

Até 3 km: 3 pesos (R$ 0,86)
3 a 6 km: 3,25 pesos (R$ 0,93)
6 a 12 km: 3,50 pesos (R$ 1)
12 a 27 km: 4 pesos (R$ 1,15)
Mais de 27 km: 4,70 pesos (R$ 1,35)

Sem SUBE, a tarifa é o dobro.

E para ver o itinerário dos ônibus, recomendo o seguinte site, da prefeitura de Buenos Aires, que permite colocar o local atual e o local de destino. Ou o GuiaT, que é um guia de bolso que funciona como mapa de páginas amarelas e pode ser comprado em bancas de jornais. Você procura a rua em que está e o guia aponta quais ônibus passam naquela rua ou nas ruas ao redor. Depois é só procurar o lugar de destino e ver quais linhas coincidem. Simples assim. Ideal para andar na rua, já que geralmente ninguém usa o 3G no celular em viagem para cá pelas altas taxas e nem sempre é fácil caçar um wifi.

Ah, e a maioria das linhas funcionam 24h por dia 😉

Como andar em Buenos Aires: de metrô

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Mapa do metrô de Buenos Aires. Clique para ver maior.

Muita gente que eu converso tem um certo receio de vir para Buenos Aires sem companhia com medo de se perder na cidade, ainda mais quando o turista não tem noção do espanhol. E sempre tento acalmar dizendo que é fácil andar por aqui (e todo mundo se vira no portunhol, gente, dá tudo certo). E é mesmo e vou mostrar isso em alguns posts.

Basicamente, não compensa (a não ser para quem quer mais conforto) ficar passeando pela cidade de táxi quando se pode fazer tudo a pé ou de transporte público. E boa parte dos principais pontos turísticos ficam perto de alguma estação do metrô, aqui chamado de Subte.

O metrô de Buenos Aires é bem antigo: a cidade foi pioneira na América Latina e inaugurou as primeiras estações há mais de 100 anos, em 1913. Eram da linha A, que, na época, ligava a Plaza de Mayo à Plaza Once (hoje Plaza Miserere). A linha B foi inaugurada em 1930, a C em 1934, a D em 1937 e a E em 1944. Para se ter uma ideia, o metrô de São Paulo, o mais antigo do Brasil, só foi inaugurado em 1974. Após as inaugurações, as linhas foram passando por prolongamentos. Já em 2007 foi a vez da linha mais moderna do sistema, a H, entrar em operação.

A linha A sendo construída, em 1912. No fundo, o Congresso. Foto: Archivo General de la Nación (AGN)

O metrô daqui é estranho para quem chega do Brasil: tem um cheiro forte, quase todas as linhas circulam com trens mais antigos. Mas é bastante funcional, atendendo boa parte dos bairros e dos pontos turísticos. E o preço da passagem é muito em conta: 5 pesos (R$ 1,42 pela cotação oficial de setembro de 2014). Para quem tem o SUBE, que é o cartão usado nos transportes daqui, é ainda mais barato: 4,50 pesos (R$ 1,28). Para o fim de 2014 é esperado um aumento, mas ainda seguirá bem abaixo do valor dos metrôs do Brasil.

O horário de funcionamento é meio restrito: de segunda a sábado das 5h às 23h e domingos e feriados das 8h às 22h30. Portanto, olho no relógio para quem vai curtir a noite portenha, porque domingo pela manhã o metrô abre tarde. E, no caso da linha B, a vermelha, o horário é outro (provavelmente até março de 2015): de segunda a sexta das 6h às 21h, de sábado das 6h às 13h e a linha fica fechada de domingos e feriados, já que há obras de modernização da linha para colocar trens com ar condicionado.

Além deste mapa de linhas, eu ia fazer um post explicando por onde cada linha passa, levando em conta os pontos turísticos. Mas a Metrovías, empresa que controla o metrô de Buenos Aires, tem um mapa com as linhas, as ruas e os pontos turísticos próximos às estações. É o segundo; baixando é possível ler as informações perfeitamente: mapa do metrô de Buenos Aires com pontos turísticos.

E como usar o metrô de Buenos Aires?

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Entrada de estação – Foto: Wikipédia

As estações são sinalizadas com um círculo redondo escrito Subte, com a cor da linha. Abaixo, em letra maior, está o nome da estação e, embaixo disso, para que direção você vai ao entrar por aquela entrada da estação. No exemplo ao lado, a linha é a C, estação Retiro, sentido Constitución. E preste bem atenção nisso, é bem importante. Como as estações são antigas, você chega à plataforma e já há a linha de bloqueios (catracas). Portanto, no caso de errar o sentido, na maioria das estações é preciso sair da estação, atravessar a rua, e entrar pelo outro lado. Isso significa que, se você já passou da catraca, quase sempre terá que sair e pagar outra passagem.

Após isso, é como no Brasil: se tiver o cartão, basta apoiá-lo na catraca para cobrar o valor da passagem e, caso não tenha, basta ir à boletería e pedir o número de viagens que você quer fazer, que a pessoa do outro lado falará o valor correspondente. Caso seja necessário fazer alguma transferência de uma linha de metrô para outra (aqui a transferência é chamada de combinación), esta transferência é gratuita. Já ao mudar de metrô para trem é necessário pagar a passagem do metrô e, posteriormente, a do trem. Ou seja, mudança de linha no metrô é gratuita, mas de metrô para trem não.

O metrô é uma forma econômica e rápida de cruzar a cidade sem ter que gastar dezenas de pesos com táxi. Acho também que vale a experiência para estar em contato com a vida da cidade, e observar melhor os moradores. E tem mais uma vantagem: sempre tem alguém tocando alguma coisa. Só recomendo atenção com objetos para evitar furtos (ainda mais porque, quando somos turistas, tendemos a descuidar mais das coisas) e evitar o metrô nos horários de pico, de manhã e no fim da tarde, porque as linhas andam bem cheias e é um aperto como em qualquer grande cidade.

Feliz Primavera

Fim de tarde do sábado nos Bosques de Palermo - Foto: Fábio De Nittis

Fim de tarde do sábado nos Bosques de Palermo – Foto: Fábio De Nittis

 

Quando eu vivia em São Paulo, acompanhava alguns blogs daqui e nesta época todo mundo falava das celebrações do Dia da Primavera. No Brasil a gente nem percebe quando muda a estação, e aqui é notável e a primavera é amplamente comemorada.

E por quê? Porque aqui o inverno é longo, frio e constante. Em março, quando eu cheguei, já começavam as primeiras madrugadas de 7 ou 8 graus, o que significa que faz seis meses que está todo mundo enfrentando vento frio no rosto e colocando casaco todo dia. Agora no final de setembro as temperaturas já tem passado um pouquinho dos 20 graus em alguns dias de tarde, esquentando também os ânimos das pessoas normais (porque, por mim, após seis meses de frio, as temperaturas podiam continuar baixas mais um tempinho, talvez o resto dos tempos).

E agora chegou o famoso fim de semana da primavera. Na sexta-feira à noite, com termômetros ainda em 20 graus às nove da noite, as ruas estavam lotadas de pessoas andando, indo a restaurantes, fazendo fila na sorveteria, bebendo e rindo nas mesinhas colocadas na calçada. Caso o dia da primavera, comemorado aqui sempre em 21 de setembro, caia durante algum dia de semana, não há aulas para que as crianças e jovens possam aproveitar. No dia da primavera as tão frequentes florerías das calçadas portenhas vendem muito mais. Os parques lotam de pessoas de todas as idades, com amigos ou com família. Tudo fica mais cheio. É como se a cidade toda renascesse junto com as folhas.

A meia estação é bem gente boa com os portenhos. Permite aproveitar bem a cidade, já que não há nem aquele frio intenso do inverno, nem o calor de quase 40 graus que é quase que uma constante em janeiro aqui em Buenos Aires. E por isso, também, esta época entre agora e novembro é ótima para os turistas: por ser baixa temporada, os pontos turísticos ficam mais vazios. A cidade fica mais propícia para andar com o clima agradável, os passeios podem ser mais prolongados porque, embora a Argentina não adote horário de verão, em Buenos Aires a claridade já está se prolongando até depois 7 da noite. A vegetação volta às árvores e as flores rendem lindas fotos. A cidade está num astral muito mais leve e as pessoas parecem mais simpáticas.

Sendo assim, feliz primavera e aproveitem que a cidade está ótima.

Meio ano portenho

Uma das vistas mais bonitas da cidade, na minha opinião - Foto: Nelson De Nittis

Avenida de Mayo e Congreso: uma das vistas mais bonitas da cidade, na minha opinião – Foto: Nelson De Nittis

De repente o tempo voou sem eu me dar conta e: seis meses de Buenos Aires. Meio ano. E é engraçada a percepção do tempo. Quando penso no quanto de mudanças pelas quais passei e na saudade que sinto dos meus amigos, da minha família e do meu cachorro, parece que faz, na verdade, uns seis anos que estou aqui sem vê-los. Quando penso na faculdade, no emprego que eu tinha, nossa, já parece outra vida.

Os problemas que eu enfrentava no Brasil ficaram tão para trás. Porque, é claro, as coisas boas a gente se adapta rápido: enfim morar perto de tudo, estar bem servido de transporte, andar de ônibus sem catraca e pagar uma tarifa irrisória, que não chega a 1 real. Como permaneci todo este tempo morando em um só bairro, parece que a Avenida Rivadavia sempre foi o cenário da minha vida toda. É estranha esta sensação de estar tão familiarizado, inclusive com aqueles probleminhas do dia a dia.

Por outro lado, não vi este tempo passar. Como não tem nada estável – estável para mim virou a instabilidade – por enquanto, tive a sensação de que, apesar de ser setembro, 2014 não começou de fato. Mas já vai acabar. E eu me imaginava nesta época já ter renda mensal fixa, mil amizades, estar em balada todo fim de semana, falar espanhol perfeito e até já ter viajado para o Brasil. Ó AZIDEIA. Só me esqueci que tudo o que é construído em 23 anos em um lugar não é possível de ser construído em poucos meses em outro, ainda mais sendo outro país. Certamente, aprender a ter menos pressa foi um grande aprendizado deste período aqui. É clichê, mas tudo tem seu tempo.

E, sem perceber, começam a acontecer coisas do tipo: entender cada vez melhor os grandes temas do país (tipo economia, política, cultura), começar a saber da vida das celebridades locais porque passa na televisão, saber onde estão os canais da TV, conhecer as músicas nacionais que tocam no rádio, saber o preço das coisas em pesos e começar a esquecer quanto pagava pelas mesmas coisas em reais, achar normal viver num país com inflação (ainda que eu viva falando do tema nas redes sociais), começar a trocar o Mc Donalds que eu comia em São Paulo pelas empanadas quando se precisa comer rápido, não perceber o gosto salgado da água mineral daqui, pedir prato em restaurante e comer sem sentir falta do arroz, trocar encontro em bar por tomar café porque faz frio, tomar mate, saber dar informação de localização de rua para os próprios moradores, dormir no ônibus e acordar na hora certa de descer, estar totalmente acostumado ao clima frio e por aí vai. Tanta coisa que era novidade e agora faço sem me dar conta, em modo automático.

Ao mesmo tempo, ainda há aquela sensação de estrangeiro que bate de vez às vezes. Quando, de repente, me dou conta que todo mundo tem traços físicos de argentino e eu não. Quando é a primeira vez que tenho que fazer alguma coisa aqui e fico apenas observando as pessoas para não esbanjar ~~estrangeirice~~ na minha vez, porque não quero que ninguém perceba. E, aliás, toda hora tenho que fazer algo pela primeira vez aqui. Quando ouço criança de 5 anos falar espanhol mais rápido e com sotaque melhor que o meu, porque, por exemplo, é difícil pronunciar o S no meio das palavras como eles falam, já que em São Paulo puxamos demais o S. Quanto me pego lendo notícia em voz alta sozinho pra treinar entonação e falar cantadinho e mais anasalado. Quando me perguntam de onde sou. Quando tenho saudade de pão de queijo.

Morar fora é… muito louco. Só consigo definir assim. É essa mistura de me sentir cada vez mais morador, ao mesmo tempo em que me sinto loucamente estrangeiro e que acho os brasileiros e argentinos cada vez mais diferentes conforme vou aprendendo sobre as pessoas daqui. Fico curioso para saber como seria ir para o Brasil agora. Será que eu me sentiria já um pouquinho estranho lá? Será que, sem perceber, tive alguma mudança no jeito de ser por ter mudado de cultura que seria percebida? Só sei que a saudade domina e ontem foi dia do Brasil por aqui, o que será tema do meu próximo post.

Em relação a mim, pessoalmente, vejam só: minha maior preocupação em morar sozinho era que eu não sabia cozinhar. Que bobagem! Mal sabia eu quanta coisa maior ia ter pela frente, que ia me fazer sentir pequeninho diante do mundo, e isso porque não passei por nenhuma grande dificuldade até agora, por sorte. Mas quanto aprendizado. Quanta maturidade a gente tem que ter. Quão adulto a gente se torna! Porque precisa, caso contrário a vida atropela. Ou, melhor dizendo, derruba forninhos.

Quanto ao futuro? Não sei dizer. Aprendi em Buenos Aires que a gente vive um dia de cada vez. E faz dele o melhor que a gente consegue fazer.

Como está sendo a Copa do Mundo na Argentina

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Olhos no telão da Plaza San Martín e coração saindo pela boca – Foto: Fábio De Nittis

Desde que comecei a informar que me mudaria de país, no fim do ano passado, algumas perguntas e comentários sempre se repetiam. Mas, de longe, o que mais ouvi é: “e aí, vai torcer para quem na Copa, Brasil ou Argentina?”. Também pudera. Diante da rivalidade histórica no futebol (mais da parte do Brasil, é verdade, já que aqui os verdadeiros rivais são a Inglaterra, pela Guerra das Malvinas, em 1982), é uma dúvida natural, ainda mais para quem resolve vir morar em Buenos Aires a menos de três meses da Copa.

Eis que um dia o Mundial chegou. Como no Brasil, a expectativa tomou conta da população e a exaltação do patriotismo também. As varandas e janelas se lotaram de bandeiras da Argentina, bem como carros, táxis, ônibus. Até os cachorros estavam vestindo celeste e branco. A imprensa fez uma cobertura completa quando a seleção embarcou rumo ao Brasil e fala exaustivamente da Copa do Mundo a qualquer hora do dia, os torcedores acompanharam, milhares de argentinos se mandaram para o Brasil de avião ou até de carro, empresas de ramos diversos sortearam ingressos ou viagens para as cidades sede da Copa, e a prefeitura montou telões pela cidade, estilo o Fan Fest aí do Brasil (só que aí é organizado pela FIFA), para que a população pudesse acompanhar os jogos ao vivo.

Aí que, nos jogos do Brasil, ficava vendo em casa. Nos da Argentina, sempre queria ir até os benditos telões e não ia. Um dia porque acordei tarde, outro por chuva, outro por tempestade, outro por frio de seis graus, outro porque estava na rua, ia dar a hora do jogo e estava mais rápido vir pra casa do que ir pro telão e por aí vai.

Mas neste último domingo, que, além de ter sido o jogo, também foi feriado na Argentina pelo Dia da Independência, resolvi fazer diferente. Almocei, peguei a bandeira da Argentina que tenho em casa, amarrei no pescoço, peguei o metrô e fui rumo à Plaza San Martín, uma praça onde um destes telões estavam instalados. Cheguei com mais de uma hora de antecedência e já quase não havia lugar para sentar. Atrás de mim, um grupo de brasileiros. Pergunto para quem estavam torcendo e me surpreendo positivamente com a resposta: “Argentina! Somos todos América.”

A festa da passagem para a final da Copa 2014 foi aqui - Foto: Fábio De Nittis

A festa da passagem para a final da Copa 2014 foi aqui – Foto: Fábio De Nittis

O jogo começa e era como se estivéssemos mais perto do Itaquerão. Os torcedores tendo sempre as mesmas reações de alegria, desespero e indignação. Nenhuma alteração no placar. Chega o segundo tempo e resolvo ver em pé no fundo. Ainda 0 a 0. Prorrogação, coração na mão. Espectativa, som de tambores. Gritos. Nada. Pênaltis. Um grito generalizado, aquele que estava entalado na garganta, faz o país vir abaixo. A Argentina estava, depois de 24 anos, na final.

Aí foi lindo. Uma multidão celeste e branca caminhando pela Avenida Santa Fé e a 9 de Julio rumo ao Obelisco, com cornetas, vuvuzelas, buzinas e tudo mais que pudesse fazer barulho. Por ali fiquei pouco tempo e no caminho de lá para casa vi a multidão já cobrindo completamente a Avenida Corrientes (cujo cruzamento com a 9 de Julio é onde está localizado o Obelisco), além de outros milhares de pessoas também pela Avenida Callao, pela Avenida Rivadavia, entre outras. Os ônibus vinham com portas abertas e pessoas apertadas: todos queriam ir comemorar no Obelisco. A festa reuniu milhares de pessoas e durou até a madrugada, ainda que

Se tiram sarro dos brasileiros aqui? Sim, mas sempre de maneira esportiva e só em relação ao futebol. Digo isso porque muita gente me perguntou se o clima estaria tenso por ser brasileiro e visitar aqui justo nesta época, andar com camiseta da seleção brasileira e não, nada disso. Aliás, um monte de gente aqui adora o Brasil e sabe bastante sobre nossa cultura e nossa música. Não vejo gente destilando ódio contra brasileiro em Facebook, por exemplo. O máximo que vai acontecer (aliás, provavelmente VAI acontecer) para quem estiver vindo enquanto a Copa estiver acontecendo ou estiver na memória da população é ouvir alguém cantando aquele que se tornou o hino oficial da Copa do Mundo aqui na Argentina. Trata-se desta música que fizeram e que diz, entre outras coisas, que os brasileiros veriam Messi trazer o título da Copa para cá e que Maradona é melhor que Pelé:

Ah, e se torço por Brasil ou Argentina? Torcia pelos dois (agora só pela Argentina, evidentemente) e para que não se enfrentassem. Ainda bem que não se enfrentaram nem na final e nem na disputa pelo terceiro lugar 🙂

Argentina? Por que a Argentina?

Muitos de vocês acompanharam todo o processo desde que comecei a querer vir para Buenos Aires, mas a maioria não sabe a história completa, em detalhes.. Por isso, resolvi começar o blog pelo começo de tudo mesmo. Espero que estejam sentados E NÃO DURMAM porque lá vem história:

Quando eu era criança, meu maior sonho era conhecer a neve. Talvez por isso eu tenha passado o começo da adolescência querendo morar em Nova York (cidade que hoje ainda não conheço, mas considero que não tem NADA a ver comigo): aqueles filmes de Natal com neve lá eram encantadores. Por isso, meu sonho de viagem era Bariloche. A Argentina era um país que me parecia legal e só, mas era a neve mais próxima, porque sdds neve digna no sul do Brasil, né, convenhamos. E, claro, para mim esta viagem só ocorreria aos vinte e poucos anos, quando eu trabalhasse e tivesse dinheiro.

Final de 2007. Naquela época eu tinha apenas 16 anos, não sonhava em fazer viagem de formatura, porque Porto Seguro, na época, não me interessava. Mas começou a surgir a interessante possibilidade de a viagem ser para… BARILOCHE. Pouco depois estava confirmado que seria para lá e, evidentemente, aproveitei a oportunidade para ir, já que com a minha família seria financeiramente impossível.

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16 de julho de 2008, 16h30, Cerro Otto: enfim na neve!

11 de julho de 2008. Naquela manhã nublada de inverno em São Paulo, partimos rumo ao aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, a bordo de um voo da Aerolíneas Argentinas. Lembro até hoje que partiu às 7h15 da manhã e chegou aqui às 9h35, num dia também nublado. Desembarcava sem nem saber direito quais eram os pontos turísticos daqui, com certo preconceito pela rivalidade que o Galvão Bueno tenta colocar goela abaixo dos brasileiros e esperando encontrar um país miserável, porque pra grande imprensa brasileira a Argentina vive uma eterna crise.

Lembro que o ônibus entrou na cidade e tirei foto de um prédio muito bonito. Mais tarde descobri que era o Congreso Nacional, que viria a ser o ponto turístico mais próximo de onde moro. O ônibus parou no nosso hotel, o Bauen, ao lado de um cruzamento movimentadíssimo, da Callao com a Corrientes. Vi que Buenos Aires era bonita e portenhos se vestiam muito bem. A passagem foi rápida: naquele dia conhecemos a região da Plaza Francia, na Recoleta. No dia seguinte, um dia de sol e calor atípico para a época, um rápido city tour pelo Caminito, La Bombonera, Puerto Madero e Plaza de Mayo. À noite fomos ao Abasto Shopping, e na madrugada seguinte já partiríamos de Buenos Aires. Em Bariloche, ficaríamos sete dias, a neve seria algo realmente lindo e Buenos Aires estaria de novo no nosso caminho, mas apenas entre a tarde do dia 20 e a madrugada do dia 21.

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Lago Nahuel Huapi e as montanhas. Bariloche visto do avião é linda desse jeito! – Foto: Fábio De Nittis

Cheguei em São Paulo e, nossa, coitado de todo mundo. Milhões de fotos, milhões de histórias. Contava que Buenos Aires não era decadente, mas muito antiga e que o metrô caía aos pedaços, mas custava 90 centavos de peso. Que tinha muito táxi. Que falavam rápido. Que se vestiam bem. Que isso, que aquilo. Comecei a acompanhar o noticiário daqui sem saber nada de espanhol. Fui entendendo como era a Argentina, os tipos de problema que tinha, as vantagens que tinha, e por aí vai. Comecei a achar que devia viver aqui, porque  achava que nada no Brasil prestava e aqui parecia Europa (hoje penso que, se parecesse de fato em tudo, eu não estaria aqui. Que orgulho ser da América Latina!). Terminei o colégio, fiz cursinho, entrei na faculdade em 2010, quando comecei a juntar dinheiro e aprender o idioma. Comprava alfajores, doces de leite, ouvia músicas e os canais de notícias daqui. Lia sobre a economia sempre muito instável, tentava (mas até hoje não consegui) entender os diferentes sindicatos daqui, as relações com o governo, as relações políticas. Comecei a saber de cor a cotação do dólar e a taxa mensal da inflação, já tinha uma noção de onde ficava as principais avenidas da cidade. Enfim, começou a familiarização com Buenos Aires.

Final de 201o. Naquele ano, minha família decidiu fazer uma viagem para mais longe. Buenos Aires era favorável pelo câmbio, por ser um destino internacional perto do Brasil e porque eu infernizava que precisava voltar. Passagens compradas e aqui desembarcamos no dia 7 de fevereiro de 2011. Já com olhar de futuro morador, com mais conhecimento da cidade e com mais dias para passear, montei roteiros exaustivos que incluíam quilômetros e mais quilômetros de caminhada sob um calor que chegava aos 36 graus à sombra no cruel verão portenho. Todos os pontos turísticos visitados. O encantamento pelo país redobrado e não restou mais dúvida de que queria vir. “A próxima vez é para ficar”, dizia eu.

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Puerto Madero, a parte moderna de Buenos Aires, precisa ser visitado em dia de sol – Foto: Fábio De Nittis

Começo de 2012. Ledo engano. Uma bela noite estou na faculdade quando começam a divulgar um curso que cairia como uma luva. Era o Jornalismo Sem Fronteiras, que consiste em simular a vida de um enviado especial ao exterior. Os participantes palestras com correspondentes e teriam que produzir reportagens. Tudo isso em… Buenos Aires! Peguei parte das minhas economias para a mudança e vim. Uma experiência incrível porque não vim totalmente a turismo, mas também para praticar a profissão, fazer entrevista em espanhol, aprender mais ainda sobre o país e sobre os portenhos. Imaginem que incrível para mim tudo isso e se deslocar pela cidade totalmente sozinho, de metrô e com o ônibus 152. Nunca me esqueço a vez que fiquei totalmente sozinho pela primeira vez, num ponto de ônibus numa avenida chamada Paseo Colón, em San Telmo. Que ar de visão de futuro que aquilo me deu. Voltei para o Brasil tão fascinado que tive princípio de depressão (é sério!).

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Avenida de Mayo, no inverno de 2012. Olhem que lindas as árvores sem folhas – Foto: Fábio De Nittis

Enquanto tudo isso aconteceu, deixei de ser chato para aproveitar bastante a vida. Saí muito, descobri as baladas, subia e descia a Augusta toda hora, sabia de cor os preços das bebidas nas baladas. Aproveitei quase todas as festas da faculdade do começo ao fim. Fui pra sítio, praia e jogos universitários com os amigos. Passei a amar intensamente o Brasil, aproveitar o que o país tem para oferecer, valorizar demais as coisas daí, o lado popular e alegre, que as pessoas tanto tem – e eu tinha – preconceito (PAREM de achar que nada presta e todo mundo devia ter nascido em Londres. Apenas parem). Descobri o Carnaval, que é lembrado o ano inteiro. São os cinco dias que mais espero e que serão eternamente aproveitados porque sempre darei um jeitinho, ainda que até lá eu esteja morando aqui. Isso é promessa de mim pra mim mesmo.  Conheci Foz do Iguaçu. Fui para o Rio três vezes. Conheci a Europa e dormi no meio do Deserto do Saara. Se em 2009 eu pensava: “se morrer hoje, levo poucas histórias legais da minha vida”, em 2013 eu terminei o ano com a sensação de que, se eu morresse, eu teria realmente VIVIDO. Um alívio imenso saber que tive todas estas oportunidades e soube aproveitá-las. Que procurei realmente fazer dos meus dias os mais felizes possíveis.

Eu fiz amigos maravilhosos na faculdade e fora dela. De pouquíssimos, passei a ter vários amigos verdadeiros. Amigos que estiveram nos bons momentos, mas que sempre estavam comigo nos momentos difíceis. Amigos com quem compartilhei os melhores anos da minha vida e todas as fanfarronices que nela ocorreram durante os últimos quatro anos. Vivi inúmeras boas histórias, registradas em outras inúmeras fotos, na memória e, principalmente, no coração. (FUI BREGA MAS AMO VOCÊS, MIGS!!! Vocês são os que mais sabem como não foi fácil vir pra cá com o outro lado da balança pesando tanto!)

Este momento emotivo no post é para dizer que eu mudei muito ao longo destes seis anos entre começar a sonhar com a Argentina e vir. Morar aqui foi uma das pouquíssimas coisas que não mudou em mim, apesar de tudo de excelente que vivi no Brasil. E agora resolvi registrar o que acontece no país do tango e comigo neste blog, que é uma mistura sobre a Argentina e minha vida pessoal. Algo que quero ler daqui uns anos e ver que deixei registrado cada etapa da minha vida aqui.

Não faço a menor ideia de quanto tempo passarei em Buenos Aires. Por enquanto, la estoy pasando bien. Acho que esta expressão argentina, indicada para dizer que você se sente bem diante de alguma situação, tem me definido muito bem até agora. Daí o nome do blog. SEJAM BEM-VINDOS!!!