Que ano, amigos!

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Eu, Gré e Breno. You can’t sit with us – Foto: marido da Gretchen

Quando o primeiro segundo de 2014 chegou, eu estava de bermuda e camiseta branca no meio do Réveillon da Avenida Paulista, o meu lugar preferido em São Paulo. Acompanhado de dois amigos, eu dizia que enfim chegava 2014. Foram anos esperando este momento.

Dali seis dias, bem no dia do meu aniversário, voava com duas amigas para o Rio de Janeiro para comemorar, encontrar mais amigos, aproveitar os dias nas praias na Urca, em Ipanema, em Copacabana, na Barra. Ver o pôr do sol no Arpoador. Ir pras festas. Dormir em hostel. Descansar a cabeça depois de quatro anos de trabalho, sendo os últimos três sem férias. Comemorar o fim da faculdade.

Voltei. Teve a formatura. Dias depois, o visto para entrar na Argentina como morador. No dia seguinte, a realização de um sonho: estava embarcando em um voo da TAP rumo à… Europa. Junto com um amigo, conheci toda a sofisticação de Paris, tomei champagne, subi na Torre Eiffel em dia de tempestade, fingi ser rico. Tão incrível que até hoje não acredito que tenha sido verdade. Encontrei a Maria Odete, também conhecida como Gretchen, ou Rainha do Rebolado, como vocês podem ver na foto acima. De lá, rumo ao Marrocos. Depois de um ano fazendo TCC sobre islamismo, foi indescritível ver o choque cultural pessoalmente. Tiramos fotos com cobra, chamamos tudo de Jade em referência à novela, andamos de camelo, dormimos no Saara. Dias depois, era a vez de Madrid. E mesmo com todo aquele frio, as ruas parecendo formigueiro com este estilo de vida tão encantador da Espanha. Encontrei uma amiga da faculdade que estava por lá e teve altas festas, teve karaokê no palco, teve sangria. Depois foi a vez de Portugal, com sua comida boa, suas cidades aconchegantes e aquela sensação estranha de falar a língua nativa estando do outro lado do oceano.

Voltei numa segunda, na sexta já era Carnaval. Outros quatro dias de folia, entre marchinhas e Lepo Lepo, com pés cansados e essas mil histórias de cada Carnaval. Na semana seguinte, as despedidas, a colação de grau da faculdade e, dias depois, a mudança para a Argentina. Aproveitei tanto que nem sei como aguentei. A vida cobraria toda essa zoeira meses mais tarde, mas valeu a pena. Viveria tudo com a mesma intensidade de novo.

Meu visto de morador, a coisa mais linda – Foto: Fábio De Nittis

 

E aqui, quantas fases, quanta coisa aconteceu! Os primeiros dias, com o meu pai aqui, ainda me sentia turista. Logo iniciou toda aquela fase de adaptação desde coisas minúsculas, tipo ir ao supermercado, até acostumar bem com o idioma, se sentir seguro para procurar emprego, aprender a morar sozinho.

E, ao contrário do que as pessoas acham, morar fora quando você é o único responsável por si mesmo, não é folia. Não é fácil sair totalmente da zona de conforto e mudar de país sem saber cozinhar, sem ter morado sozinho, sem estar matriculado em um curso, sem ter trabalho, sem conhecer ninguém. Eu tive um ano bem difícil, na verdade, e a sorte muitas vezes passou longe. Levei calote, tive inúmeros problemas nos dois apartamentos (tipo entupir encanamento, furar o termotanque e ficar sem água quente no inverno e por aí vai), conheci gente aproveitadora, tive atraso de pagamento, entre outros problemas. Passei muitos sábados à noite sozinho em casa e triste, me afastei dos meus divertimentos favoritos de quando eu morava no Brasil, me questionei inúmeras vezes se o que eu estava fazendo era certo. Passei o ano acordando, vestindo uma armadura fingindo ser forte até isso ir se tornando verdade, passei estes nove meses aqui exausto mentalmente com tantas novidades, fossem boas ou ruins, e me decepcionei por 2014 não ter se resolvido rápido.

E como senti saudade dos meus amigos, das festas, da minha São Paulo, da Avenida Paulista e da Augusta, do meu dinheirinho rendendo na poupança e da minha zona de conforto de estar no mesmo emprego, na mesma faculdade. E a família? Sempre morei com eles e faz sete meses que não vejo minha mãe, por exemplo, que tenho forte ligação. Faz nove meses que não abraço meu cachorro. Não pude estar presente no aniversário de 18 anos do meu irmão e nem estarei sentado à mesa na Ceia de Natal, porque passarei as festas de fim de ano aqui. E esta é a parte mais difícil: a distância e a saudade.

Eu adoro este ângulo - Foto: Fábio De Nittis

Eu adoro este ângulo – Foto: Fábio De Nittis

Buenos Aires tem sido a cidade onde estou aprendendo a ser adulto. E me sinto sortudo de poder passar essa fase aqui. Ainda choro de emoção ocasionalmente quando passo pelo Obelisco, sinto fome à 1h e saio na rua tranquilamente e com frequência para comer, aproveito parques, encontro a paz na beira do rio e não paro em casa quando tenho tempo livre. Na época de frio, sentia aquele ar gelado no rosto, aproveitava as cafeterias, reparava nas folhas amareladas de outono e depois nas folhas sem galhos. Aproveito este estilo de vida que eu tanto gosto, de aproveitar o espaço público, de horários sempre muito tardios, de ruas parecendo formigueiros, desde jovens em grupo indo para balada, até pessoas correndo, passeando com cachorros e velhinhas que se reúnem para se encontrar no café para horas de papo.

Aqui aprendi que tudo tem seu tempo e que cada pequena conquista faz surgir um sorriso no rosto. Quando começaram as primeiras interações com as pessoas daqui, quando os motoristas de ônibus passaram a me entender de primeira ao pedir a tarifa do ônibus, quando não me gritam “câmbio” na rua Florida porque já não esbanjo estrangeirice, quando conheço um lugar novo na cidade. E, claro, as grandes conquistas: quando consegui mudar de apartamento sem ser passado pra trás, quando comecei a ter minhas primeiras rendas em pesos argentinos, quando tive os primeiros meses que consegui fechar as contas com trabalho, e não dinheiro que trouxe, e tantas outras.

2014 foi um ano que me amadureceu, embora eu não saiba medir o quanto. Acho que viver em outra cultura é enriquecedor e vir como eu vim me fez mais responsável. Aprendi que são poucas as pessoas verdadeiramente amigas e que a gente não pode contar com quase ninguém. Aprendi que a gente é capaz de resolver problemas e só descobre isso quando está no meio deles. Também me dei conta que é preciso ter autoestima e cara de pau, algo que em muitos momentos eu falhei e fez com que eu me fizesse de vítima dos acontecimentos do ano. E ainda tem mais 17 dias até a linha de chegada, que prometem muitas novidades.

Quando 2015 chegar, estarei sem ter a menor ideia do que será da minha vida nos 365 dias seguintes. Não sei se fico, não sei se volto, não sei se conseguirei visitar São Paulo, se farei outras viagens, não sei se vou ter dinheiro, não sei o que faço da carreira, não sei quantos amigos vou fazer, quanto vou aproveitar. Tenho chegado à conclusão que nem tem muito como saber, a vida é dinâmica e fica de brinks mudando tudo de uma hora pra outra. Só uma coisa está decidida: em 2015 vou ser feliz. Não importa como, nem onde.

Um excelente fim de ano para vocês, com um Natal abençoado e de paz e um 2015 de positividade e de astros jogando a nosso favor. Pode vir, 2015, MAS, SOCORRO, SEJA MAIS FÁCIL QUE SEU ANTECESSOR!!!