Como está sendo a Copa do Mundo na Argentina

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Olhos no telão da Plaza San Martín e coração saindo pela boca – Foto: Fábio De Nittis

Desde que comecei a informar que me mudaria de país, no fim do ano passado, algumas perguntas e comentários sempre se repetiam. Mas, de longe, o que mais ouvi é: “e aí, vai torcer para quem na Copa, Brasil ou Argentina?”. Também pudera. Diante da rivalidade histórica no futebol (mais da parte do Brasil, é verdade, já que aqui os verdadeiros rivais são a Inglaterra, pela Guerra das Malvinas, em 1982), é uma dúvida natural, ainda mais para quem resolve vir morar em Buenos Aires a menos de três meses da Copa.

Eis que um dia o Mundial chegou. Como no Brasil, a expectativa tomou conta da população e a exaltação do patriotismo também. As varandas e janelas se lotaram de bandeiras da Argentina, bem como carros, táxis, ônibus. Até os cachorros estavam vestindo celeste e branco. A imprensa fez uma cobertura completa quando a seleção embarcou rumo ao Brasil e fala exaustivamente da Copa do Mundo a qualquer hora do dia, os torcedores acompanharam, milhares de argentinos se mandaram para o Brasil de avião ou até de carro, empresas de ramos diversos sortearam ingressos ou viagens para as cidades sede da Copa, e a prefeitura montou telões pela cidade, estilo o Fan Fest aí do Brasil (só que aí é organizado pela FIFA), para que a população pudesse acompanhar os jogos ao vivo.

Aí que, nos jogos do Brasil, ficava vendo em casa. Nos da Argentina, sempre queria ir até os benditos telões e não ia. Um dia porque acordei tarde, outro por chuva, outro por tempestade, outro por frio de seis graus, outro porque estava na rua, ia dar a hora do jogo e estava mais rápido vir pra casa do que ir pro telão e por aí vai.

Mas neste último domingo, que, além de ter sido o jogo, também foi feriado na Argentina pelo Dia da Independência, resolvi fazer diferente. Almocei, peguei a bandeira da Argentina que tenho em casa, amarrei no pescoço, peguei o metrô e fui rumo à Plaza San Martín, uma praça onde um destes telões estavam instalados. Cheguei com mais de uma hora de antecedência e já quase não havia lugar para sentar. Atrás de mim, um grupo de brasileiros. Pergunto para quem estavam torcendo e me surpreendo positivamente com a resposta: “Argentina! Somos todos América.”

A festa da passagem para a final da Copa 2014 foi aqui - Foto: Fábio De Nittis

A festa da passagem para a final da Copa 2014 foi aqui – Foto: Fábio De Nittis

O jogo começa e era como se estivéssemos mais perto do Itaquerão. Os torcedores tendo sempre as mesmas reações de alegria, desespero e indignação. Nenhuma alteração no placar. Chega o segundo tempo e resolvo ver em pé no fundo. Ainda 0 a 0. Prorrogação, coração na mão. Espectativa, som de tambores. Gritos. Nada. Pênaltis. Um grito generalizado, aquele que estava entalado na garganta, faz o país vir abaixo. A Argentina estava, depois de 24 anos, na final.

Aí foi lindo. Uma multidão celeste e branca caminhando pela Avenida Santa Fé e a 9 de Julio rumo ao Obelisco, com cornetas, vuvuzelas, buzinas e tudo mais que pudesse fazer barulho. Por ali fiquei pouco tempo e no caminho de lá para casa vi a multidão já cobrindo completamente a Avenida Corrientes (cujo cruzamento com a 9 de Julio é onde está localizado o Obelisco), além de outros milhares de pessoas também pela Avenida Callao, pela Avenida Rivadavia, entre outras. Os ônibus vinham com portas abertas e pessoas apertadas: todos queriam ir comemorar no Obelisco. A festa reuniu milhares de pessoas e durou até a madrugada, ainda que

Se tiram sarro dos brasileiros aqui? Sim, mas sempre de maneira esportiva e só em relação ao futebol. Digo isso porque muita gente me perguntou se o clima estaria tenso por ser brasileiro e visitar aqui justo nesta época, andar com camiseta da seleção brasileira e não, nada disso. Aliás, um monte de gente aqui adora o Brasil e sabe bastante sobre nossa cultura e nossa música. Não vejo gente destilando ódio contra brasileiro em Facebook, por exemplo. O máximo que vai acontecer (aliás, provavelmente VAI acontecer) para quem estiver vindo enquanto a Copa estiver acontecendo ou estiver na memória da população é ouvir alguém cantando aquele que se tornou o hino oficial da Copa do Mundo aqui na Argentina. Trata-se desta música que fizeram e que diz, entre outras coisas, que os brasileiros veriam Messi trazer o título da Copa para cá e que Maradona é melhor que Pelé:

Ah, e se torço por Brasil ou Argentina? Torcia pelos dois (agora só pela Argentina, evidentemente) e para que não se enfrentassem. Ainda bem que não se enfrentaram nem na final e nem na disputa pelo terceiro lugar 🙂