Agosto: mês dos pais no Brasil, mês das crianças na Argentina

Dia desses estava eu no Facebook quando dezenas de fotos dos meus amigos com seus pais começam a surgir. Foi quando me dei conta que era dia dos pais no Brasil. Como aqui cai em outra data, não havia propaganda na televisão nem nas vitrines. Não fosse pelas redes sociais, esses dias e outras datas comemorativas daí acabariam passando despercebidas por mim. Porque aqui funciona da seguinte maneira:

Em fevereiro tem Carnaval, mas tem também dia dos namorados. Como na maior parte do mundo, a data é comemorada no dia 14 aqui, día de San Valentín. No Brasil alguém foi espertinho e jogou a data romântica pra junho, bem longe da folia.

Junho aqui também é mês de comemoração, mas por outro motivo: o dia dos pais, que no Brasil só dá as caras em agosto. A data é comemorada no terceiro domingo do mês.

Agosto também é mês de data especial na Argentina: é a vez do dia das crianças, que é celebrado no segundo domingo do mês. Este ano, devido às eleições presidenciais, a comemoração foi passada pra semana seguinte.

Quando chega o mês das crianças no Brasil, aqui as vitrines se enchem de frases fazendo referência à data comemorativa de outubro na Argentina: o dia das mães, que acontece no terceiro domingo do mês.

Por sorte, alguns poucos dias coincidem, claro. É o caso do Ano Novo, do Carnaval, da Páscoa e do Dia do Trabalho. Também temos as datas comemorativas locais, que já não tem nada a ver com o Brasil, mas para quem quer saber, aqui está: http://servicios.lanacion.com.ar/feriados/2015

Feliz dia do amigo!

Aquela frase que diz que é amigo é a família que a gente escolheu é, para mim, a melhor definição de amizade. E quando eu vim morar aqui eu já sabia que a distância dos meus amigos ia pesar bastante no dia a dia. Passou quase um ano e meio e ainda pesa, ainda que nos falemos diariamente por todas as redes sociais possíveis.

A falta que essas pessoas especiais tanto fazem é ainda maior se levar em conta que vivo num país onde a dia é amplamente comemorado, como se fosse o dia dos pais ou das mães, por exemplo. Afinal, o dia do amigo teve origem justamente aqui, na Argentina, no começo dos anos 70. O inventor foi Enrique Febbrado, um senhor já falecido, que escolheu a data em alusão ao dia em que o homem teria pisado na lua.

Por isso, esse final de semana foi de shoppings lotados como se fosse semana de Natal, e vitrines com frases que faziam referência ao dia de celebrar mais um ano de amizade. O pessoal faz amigo secreto (aqui, amigo invisible), inclusive nas empresas, trocam presentes e lotam bares, restaurantes e festas.

E hoje, apesar de ser uma segunda-feira, foi dia de ver as pessoas se abraçando e, sorridentes, dizendo: felíz día! 🙂

Um ano de Buenos Aires

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Esse é meu visto 🙂 – Foto: Fábio De Nittis

 

Certa vez, assistindo TV, ouvi uma frase muito marcante, que dizia: “Cuidado com os seus sonhos. Eles podem se tornar realidade”. E foi há um ano, numa noite de sexta, que o maior sonho de morar em Buenos Aires se fez real.

Meu pai veio comigo para a mudança e isso me trouxe uma segurança inicial muito grande. Na verdade, me sentia turista, ainda que estivesse comprando panos de prato e panela em vez de alfajores e ímãs. Seis dias depois, ao deixá-lo no  ônibus que o levaria ao aeroporto, imediatamente caiu a ficha do que estava acontecendo e veio aquela sensação de insegurança seguida de um: “que que eu tô fazendo aqui?”

E aí, meus amigos, que não quero dar um ar negativo para o post, mas acho importante pontuar algumas coisas. Quando vemos as pessoas morando fora por meio das redes sociais, seja porque se mudaram definitivamente ou por intercâmbio, tudo parece mil maravilhas. Porque, claro, todos gostam de postar o que é legal. Bom, também tem aquela forçação de barra com o intuito de fingir uma falsa imagem de vida excelente perante os outros. E creio que, pelas minhas redes sociais estarem cheias de fotos bonitas daqui, tem gente que acha que estou aqui de boa e curtindo a vida e batendo perna o dia todo.

Não é bem assim. Desde que eu me mudei, aconteceram muitas coisas complicadas. Fui assaltado com menos de dois meses aqui, conheci gente de má índole, gente aproveitadora, fui desrespeitado dentro da minha própria casa algumas vezes, tive que lidar com entrevistas de emprego mal sucedidas, passei por problemas no ap que eu morava (teve infestação de rato no prédio, os objetos foram quebrando, o tanque de água quente furou e fiquei sem água aquecida sete dias no inverno, teve infiltração e por aí vai), levei calote de freela, tive atraso de pagamento que complicou desesperadamente meu orçamento, eu penei pra alugar apartamento, eu sofro com burocracias tipo não conseguir ter uma conta de banco e por aí vai.

Diante de tudo isso, confesso que fui me sentindo cada vez menor diante da vida, do mundo, dos problemas. Me diverti pouco, quase não fiz amigos, abandonei minha querida vida de baladas. Mesmo porque, também tem a solidão. Dá saudade de estar com a cabeça livre me divertindo com meus amigos. Quantos sábados à noite chuvosos sozinhos aqui. Quantas tardes de domingo, o dia mais depressivo da semana, também nessa situação. Sem falar que, neste um ano, a vida me mostrou que estou eu por mim mesmo aqui. Sempre terminou assim. Talvez seja por isso que um dia, ainda lá em abril, um argentino me disse: “Morar sozinho e fora vai fazer você conhecer muito sobre você mesmo”. Ele estava certo.

Neste um ano, perdi muitos fios de cabelo, uns quilos e ganhei umas olheiras mais profundas e umas rugas. Porque o que mais demandou de mim foi o fato de ter que amadurecer. Sempre morei com família, nem cozinhar eu sabia. E hoje tenho que lidar com mil problemas de uma vez, o que me faz sentir um malabarista jogando umas dez laranjas pro alto, mas sem poder deixar nenhuma cair.

O bairro onde morei esse tempo todo - Foto: Fábio De Nittis

O bairro onde morei esse tempo todo – Foto: Fábio De Nittis

Nossa, mas está tão ruim assim? Claro que não! Me senti na obrigação de contar algo diferente, antes de contar aquele clichê que todo mundo está acostumado, que são as coisas boas. Em um ano de Buenos Aires também conheci muita gente boa e que me ajudou. Eu deixei de ter vergonha de falar espanhol e acho que melhorei bastante minha comunicação. Eu fui superando as diferenças culturais, passei a saber lidar melhor com as coisas e pessoas daqui. Aprendi a andar por Buenos Aires e inclusive dar informação pra moradores, a indicar lugares para os turistas. Conheci muitos lugares agradáveis da cidade que eu mais gosto no mundo, passei tardes de verão em parques, na beira do rio e os dias de inverno em cafés. Comi muita pizza boa, medialuna, alfajor, doce de leite, bati muito papo, recebi gente muito querida que prova que mesmo a distância não enfraquece laços.

Sem falar que, profissionalmente, vivi de freela, o que significou várias experiências, como fazer textos publicitários, cobrir final da Libertadores, traduzir documentários latino-americanos, programas de humor, fazer pornô (calma, gente, apenas traduzi ~~filmes adultos~~), revisar estatutos de empresas, fazer transcrições de áudio.

E como lembrar das pequenas conquistas me faz sorrir. O primeiro trabalho aqui, o primeiro salário em pesos, as primeiras pessoas que surgiram, a primeira vez que me chamaram para sair, os primeiros contatos mais próximos com os moradores, as primeiras ligações que você faz em espanhol e acha que vai dar tudo errado, o dia que enfim vem o DNI (nosso RG), a primeira vez que consegui ir pro Brasil. Ainda tem muita primeira vez a caminho!

Confesso que, quando me mudei, por inexperiência de vida, achei que meu aniversário de um ano em Buenos Aires seria sensacional, com tudo totalmente estabilizado. Mas aprendi que a vida não é muito simples, que a gente tem que lutar MUITO para conseguir realizar o que queremos. E que, neste caminho de luta, precisamos ser fortes e não cansar, porque a vida vai colocar uma série de obstáculos, especialmente quando a gente achar que, agora sim, está tudo bem e começar a respirar aliviado.

Obrigado, Buenos Aires, por este primeiro ano. Se houver mais um, espero aproveitar melhor o que você tem para oferecer a seus moradores. E, quando algum problema surgir, vou em frente seguindo uma frase que minha mãe às vezes me diz: “Não fique triste, você está em Buenos Aires.” 🙂

Um dia eu viajei para o Brasil

Eu peguei o primeiro avião com destino à felicidade. - Foto: Fábio De Nittis

Eu peguei o primeiro avião com destino à felicidade. – Foto: Fábio De Nittis

Era setembro, tinha tido Dia do Brasil no sábado anterior. Resolvi comprar passagens para o Carnaval sem nem saber se teria dinheiro para continuar morando em Buenos Aires até fevereiro, porque planejar mais que um ou dois meses à frente, na atual fase da minha vida, anda impossível. Em janeiro resolvi alterar a data da passagem para ficar 11 dias em São Paulo, depois de 11 meses sem dar as caras na cidade que eu nasci e vivi a vida toda.

Chegou o tão esperado 6 de fevereiro. Um dia lindo em que acordei antes de amanhecer, me arrumei, peguei a mala, peguei o ônibus e enfim pisava no Aeroparque. Depois de umas dez vezes indo lá buscar e levar amigos, me emocionar com encontros e despedidas, chegava a minha vez de voar rumo à minha cidade.

O voo atrasou. Quando o avião acelerou na pista, meu coração também foi a 1.000 por hora. Olhei pela janela, vi a linda Buenos Aires ficando pra trás, lembrei porque gosto tanto desta cidade. Na tentativa de controlar a ansiedade, peguei a revistinha de entretenimento da companhia aérea. Para a minha surpresa, trazia a programação dos blocos de Carnaval em várias cidades, inclusive São Paulo. O melhor disso? eu estaria lá. Minutos deppois surge guaraná no serviço de bordo. Gente, eu nem era de tomar muito guaraná, mas quando vi ali e tomei, parecia a melhor coisa do mundo.

Horas depois, e com mais um pouco de atraso pelo tráfego aéreo de Guarulhos, pousei. Reencontrei minha família. Eu não via meu pai e meu irmão desde julho. Minha mãe, então, desde maio. Parecia um sonho. Logo depois veio a estranheza: ouvir e ler tudo em português, andar pelo bairro onde morei 23 anos e ver tanta coisa diferente. Esta sensação de estranheza me acompanhou nos dias seguintes, quando usei ônibus, metrô. E começaram a acontecer coisas do tipo: me perdi no terminal de ônibus que usei tantas vezes porque mudaram os pontos das linhas. Outro dia, cheguei no ponto da linha que sempre pegava. Um senhor me questionou se o ônibus passava na avenida tal. “Desculpe, não sei, não moro aqui”, foi a minha resposta, que ficou ecoando por minutos na minha cabeça. De fato, São Paulo já me parecia meio estranha porque não é mais a cidade que eu moro.

E sobre isso, soa coxinhice e é difícil de explicar. Óbvio que em umas semanas eu voltaria a me sentir em casa como se nunca tivesse havido Buenos Aires. Mas São Paulo não é mais a cidade que moro pra eu me sentir 100% à vontade. Visitar minha cidade natal foi… DIFERENTE. Esta é a palavra! E esse é o motivo do desconforto: achei que 11 meses não seriam suficientes pra achar nada diferente. E é engraçado: me senti indo da minha casa para a casa ao mesmo tempo em que me sinti sem pátria, por não me sentir 100% daí nem 100% daqui. E nunca serei.

Nos dias no Brasil eu voltei a comer a comida da minha mãe, vi familiares, vi amigos e cantei e dancei em blocos e mais blocos. Porque uma coisa não muda, caros amigos: a paixão pelo Carnaval (lembro que falei pros meus amigos que, acontecesse o que tivesse que acontecer, mas em 2015 eu estaria no Carnaval paulistano). Voltei a dormir na cama que sempre dormir, a estar numa zona de conforto de pensar apenas em trabalhar (porque não peguei folga) e me divertir, sem pensar em contas, em burocracias para resolver, em problemas de adulto. Foi um descanso mental necessário.

Voltei para Buenos Aires com o coração na mão de saber que toda aquela gente querida não estaria mais presente no meu dia-a-dia, mas já com saudades das terras portenhas. E voltei com a mesma sensação que sempre tive, desde que comecei a querer vir viver aqui: que, na verdade, eu queria estar 50% em São Paulo e 50% em Buenos Aires. Como o teletransporte ainda não existe, espero que as companhias aéreas baixem preços e permitam que essa distância se faça menor.

Que ano, amigos!

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Eu, Gré e Breno. You can’t sit with us – Foto: marido da Gretchen

Quando o primeiro segundo de 2014 chegou, eu estava de bermuda e camiseta branca no meio do Réveillon da Avenida Paulista, o meu lugar preferido em São Paulo. Acompanhado de dois amigos, eu dizia que enfim chegava 2014. Foram anos esperando este momento.

Dali seis dias, bem no dia do meu aniversário, voava com duas amigas para o Rio de Janeiro para comemorar, encontrar mais amigos, aproveitar os dias nas praias na Urca, em Ipanema, em Copacabana, na Barra. Ver o pôr do sol no Arpoador. Ir pras festas. Dormir em hostel. Descansar a cabeça depois de quatro anos de trabalho, sendo os últimos três sem férias. Comemorar o fim da faculdade.

Voltei. Teve a formatura. Dias depois, o visto para entrar na Argentina como morador. No dia seguinte, a realização de um sonho: estava embarcando em um voo da TAP rumo à… Europa. Junto com um amigo, conheci toda a sofisticação de Paris, tomei champagne, subi na Torre Eiffel em dia de tempestade, fingi ser rico. Tão incrível que até hoje não acredito que tenha sido verdade. Encontrei a Maria Odete, também conhecida como Gretchen, ou Rainha do Rebolado, como vocês podem ver na foto acima. De lá, rumo ao Marrocos. Depois de um ano fazendo TCC sobre islamismo, foi indescritível ver o choque cultural pessoalmente. Tiramos fotos com cobra, chamamos tudo de Jade em referência à novela, andamos de camelo, dormimos no Saara. Dias depois, era a vez de Madrid. E mesmo com todo aquele frio, as ruas parecendo formigueiro com este estilo de vida tão encantador da Espanha. Encontrei uma amiga da faculdade que estava por lá e teve altas festas, teve karaokê no palco, teve sangria. Depois foi a vez de Portugal, com sua comida boa, suas cidades aconchegantes e aquela sensação estranha de falar a língua nativa estando do outro lado do oceano.

Voltei numa segunda, na sexta já era Carnaval. Outros quatro dias de folia, entre marchinhas e Lepo Lepo, com pés cansados e essas mil histórias de cada Carnaval. Na semana seguinte, as despedidas, a colação de grau da faculdade e, dias depois, a mudança para a Argentina. Aproveitei tanto que nem sei como aguentei. A vida cobraria toda essa zoeira meses mais tarde, mas valeu a pena. Viveria tudo com a mesma intensidade de novo.

Meu visto de morador, a coisa mais linda – Foto: Fábio De Nittis

 

E aqui, quantas fases, quanta coisa aconteceu! Os primeiros dias, com o meu pai aqui, ainda me sentia turista. Logo iniciou toda aquela fase de adaptação desde coisas minúsculas, tipo ir ao supermercado, até acostumar bem com o idioma, se sentir seguro para procurar emprego, aprender a morar sozinho.

E, ao contrário do que as pessoas acham, morar fora quando você é o único responsável por si mesmo, não é folia. Não é fácil sair totalmente da zona de conforto e mudar de país sem saber cozinhar, sem ter morado sozinho, sem estar matriculado em um curso, sem ter trabalho, sem conhecer ninguém. Eu tive um ano bem difícil, na verdade, e a sorte muitas vezes passou longe. Levei calote, tive inúmeros problemas nos dois apartamentos (tipo entupir encanamento, furar o termotanque e ficar sem água quente no inverno e por aí vai), conheci gente aproveitadora, tive atraso de pagamento, entre outros problemas. Passei muitos sábados à noite sozinho em casa e triste, me afastei dos meus divertimentos favoritos de quando eu morava no Brasil, me questionei inúmeras vezes se o que eu estava fazendo era certo. Passei o ano acordando, vestindo uma armadura fingindo ser forte até isso ir se tornando verdade, passei estes nove meses aqui exausto mentalmente com tantas novidades, fossem boas ou ruins, e me decepcionei por 2014 não ter se resolvido rápido.

E como senti saudade dos meus amigos, das festas, da minha São Paulo, da Avenida Paulista e da Augusta, do meu dinheirinho rendendo na poupança e da minha zona de conforto de estar no mesmo emprego, na mesma faculdade. E a família? Sempre morei com eles e faz sete meses que não vejo minha mãe, por exemplo, que tenho forte ligação. Faz nove meses que não abraço meu cachorro. Não pude estar presente no aniversário de 18 anos do meu irmão e nem estarei sentado à mesa na Ceia de Natal, porque passarei as festas de fim de ano aqui. E esta é a parte mais difícil: a distância e a saudade.

Eu adoro este ângulo - Foto: Fábio De Nittis

Eu adoro este ângulo – Foto: Fábio De Nittis

Buenos Aires tem sido a cidade onde estou aprendendo a ser adulto. E me sinto sortudo de poder passar essa fase aqui. Ainda choro de emoção ocasionalmente quando passo pelo Obelisco, sinto fome à 1h e saio na rua tranquilamente e com frequência para comer, aproveito parques, encontro a paz na beira do rio e não paro em casa quando tenho tempo livre. Na época de frio, sentia aquele ar gelado no rosto, aproveitava as cafeterias, reparava nas folhas amareladas de outono e depois nas folhas sem galhos. Aproveito este estilo de vida que eu tanto gosto, de aproveitar o espaço público, de horários sempre muito tardios, de ruas parecendo formigueiros, desde jovens em grupo indo para balada, até pessoas correndo, passeando com cachorros e velhinhas que se reúnem para se encontrar no café para horas de papo.

Aqui aprendi que tudo tem seu tempo e que cada pequena conquista faz surgir um sorriso no rosto. Quando começaram as primeiras interações com as pessoas daqui, quando os motoristas de ônibus passaram a me entender de primeira ao pedir a tarifa do ônibus, quando não me gritam “câmbio” na rua Florida porque já não esbanjo estrangeirice, quando conheço um lugar novo na cidade. E, claro, as grandes conquistas: quando consegui mudar de apartamento sem ser passado pra trás, quando comecei a ter minhas primeiras rendas em pesos argentinos, quando tive os primeiros meses que consegui fechar as contas com trabalho, e não dinheiro que trouxe, e tantas outras.

2014 foi um ano que me amadureceu, embora eu não saiba medir o quanto. Acho que viver em outra cultura é enriquecedor e vir como eu vim me fez mais responsável. Aprendi que são poucas as pessoas verdadeiramente amigas e que a gente não pode contar com quase ninguém. Aprendi que a gente é capaz de resolver problemas e só descobre isso quando está no meio deles. Também me dei conta que é preciso ter autoestima e cara de pau, algo que em muitos momentos eu falhei e fez com que eu me fizesse de vítima dos acontecimentos do ano. E ainda tem mais 17 dias até a linha de chegada, que prometem muitas novidades.

Quando 2015 chegar, estarei sem ter a menor ideia do que será da minha vida nos 365 dias seguintes. Não sei se fico, não sei se volto, não sei se conseguirei visitar São Paulo, se farei outras viagens, não sei se vou ter dinheiro, não sei o que faço da carreira, não sei quantos amigos vou fazer, quanto vou aproveitar. Tenho chegado à conclusão que nem tem muito como saber, a vida é dinâmica e fica de brinks mudando tudo de uma hora pra outra. Só uma coisa está decidida: em 2015 vou ser feliz. Não importa como, nem onde.

Um excelente fim de ano para vocês, com um Natal abençoado e de paz e um 2015 de positividade e de astros jogando a nosso favor. Pode vir, 2015, MAS, SOCORRO, SEJA MAIS FÁCIL QUE SEU ANTECESSOR!!!

Como andar em Buenos Aires: a pé

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Principais avenidas da região central de Buenos Aires

Para mim, o melhor jeito de conhecer Buenos Aires é andando. Mas sou suspeito para falar porque já andei coisa de 15 km numa tarde numa das vezes que vim por aqui. E explico as razões:

1- Os quarteirões tem o mesmo tamanho
Na parte central de Buenos Aires, os quarteirões tem mais ou menos o mesmo tamanho, como ilustra o mapa acima (estes quadradinhos cinzas). Cada quarteirão tem uma numeração de 100. Por isso, dá para ter uma boa noção do quanto se vai andar: se você está no número 1.000 e tem que andar até o 200 da mesma rua, já sabe que são oito quarteirões pela frente.

2- A numeração diminui sentido centro da cidade
Isso é bom para quem, assim como eu, vive errando o sentido que tem que ir. Nas ruas que no sentido leste-oeste (como a Corrientes, a Avenida de Mayo, a Santa Fé, a Córdoba, entre outras), a numeração diminui sentido centro da cidade. Nas que cortam a cidade de norte para sul, a numeração diminui indo na direção da Avenida Rivadavia e aumentando quanto mais se afasta dela.

3- Algumas avenidas servem de referência
Sabendo o nome de algumas avenidas, dá para se localizar bastante bem por aqui, como destaquei no mapa. Nas avenidas que vão sentido leste-oeste, há a Avenida Independência na parte sul, quatro quadras para cima é a Belgrano, mais quatro quadras a Rivadavia, outras quatro quadras a Corrientes, mais quatro e se chega à Córdoba e mais três se chega à Santa Fé, já na parte norte da cidade. No sentido norte-sul, as avenidas e ruas mudam de nome ao cruzar a Rivadavia. A Paseo Colón vira a Leandro N Além, a Entre Ríos vira Callao e por aí vai.

4- Tudo quanto é prédio é bonito
Andar ainda traz esta vantagem: se o turista olhar para cima, vai ver que prédios comuns, que abrigam escritórios, redes de fast-food ou colégios têm uma arquitetura linda, embora não sejam turísticos.

5- A CIDADE É PLANA
Deixei pelo fim porque é o melhor: a cidade é inteirinha plana. Quando tem subida/descida é quase imperceptível. Ou seja, andar não cansa 😉

Como andar em Buenos Aires: de táxi

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Quando vim em 2008, pela primeira vez, o número de táxis foi uma das coisas que mais chamou a atenção – Foto: Fábio De Nittis

Muita gente na hora de vir para Buenos Aires preza pelo conforto. Outros acabam recorrendo ao táxi pela agilidade ou para fugir do frio de julho ou do calor de janeiro.

Os táxis aqui são pintados de amarelo e preto. Qualquer um identifica ao colocar os pés em Buenos Aires porque tem bastante táxi mesmo. E para pegar, é simples: basta estender o braço. Pode-se dar o endereço exato para o motorista ou, como os moradores fazem, dar o cruzamento mais próximo do local que você pretende descer.

E tem golpe? Para ser sincero, só tive problema com táxi uma vez que peguei no aeroporto: o taxímetro pulava mais rápido que o comum. Uns anos atrás falava-se muito nos blogs de viagem daqui em golpe de pegar a nota de 100 pesos do turista, substituir rapidamente e devolver uma nota de 100 falsa, informando que a nota era falsa. Não sei se ainda rola, não conheço ninguém que tenha caído, nem tenho visto alerta quanto a isso, mas sempre bom estar atento. Também dizem que é mais confiável pegar táxis de companhias, ou seja, os que tem número de telefone (pela possibilidade de poder reclamar depois). Mas é tranquilo, gente.

Quanto custa o táxi em Buenos Aires?

Por causa da inflação, temos importantes aumentos várias vezes ao ano. Nestes nove primeiros meses de 2014, por exemplo, o aumento foi de 30%. Os preços de novembro de 2014 (com cotação oficial) são os seguintes:

Bandeirada de dia, das 6h às 22h: 14,30 pesos (R$ 4,15) + 1,43 peso (R$ 0,41) a cada 200 metros.
Bandeirada de noite, das 22h às 6h: 17,10 pesos (R$ 4,95) + 1,71 peso (R$ 0,50) a cada 200 metros.

Para saber mais ou menos o preço da corrida, há um site muito bom chamado: Viajo en Taxi.

Consultando este site, fiz uma pesquisa entre alguns pontos importantes durante o dia, partindo do Obelisco:

Obelisco-Casa Rosada: 29 pesos (R$ 8,40)
Obelisco-Puerto Madero: 31 pesos (R$ 9)
Obelisco-San Telmo: 39 pesos (R$ 11,30)
Obelisco-Abasto: 48 pesos (R$ 13,90)
Obelisco-Plaza Francia: 57 pesos (R$ 16,50)
Obelisco-La Boca: 67 pesos (R$ 19,40)
Obelisco-Plaza Italia: 68 pesos (R$ 19,70)
Obelisco-Plaza Armenia: 73 pesos (R$ 21,15)
Obelisco-Aeroparque: 83 pesos (R$ 24,05)
Obelisco-Barrio Chino: 106 pesos (R$ 30,70)
Obelisco-Aeroporto de Ezeiza: 283 pesos (R$ 82)

Como andar em Buenos Aires: de ônibus

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Ônibus de Buenos Aires – Foto: Fábio De Nittis

Se andar de metrô por Buenos Aires, de ônibus a coisa já não é tão simples assim para quem é turista. Mas também não é nada de outro mundo. E, por exemplo, para ir ao La Boca compensa em vez de pagar o táxi, que sai bem mais caro, especialmente para quem se hospeda pros lados de Palermo. Então vamos às explicações:

– Em Buenos Aires se vê ônibus pelo número da linha
Deve ser assim na maioria das cidades do Brasil e do mundo. Mas em São Paulo a gente costuma decorar o ônibus geralmente pelo destino (e só se dois ônibus têm o mesmo destino é que prestamos atenção no número da linha). Aqui é pelo número, mas é um número curtinho: de um a três dígitos.

– O letreiro principal não indica o sentido do ônibus
Geralmente o letreiro do ônibus vem com o número grande e uns 4 bairros, e o letreiro não muda. Isso acontece mesmo nos ônibus de letreiro digital; as empresas mantêm este esquema. Então não dá para saber o sentido que o ônibus está indo. Em algumas linhas há uma placa pequena embaixo, na frente, que às vezes diz.

– O pagamento é em moeda para quem não tem o cartão
Quem mora aqui usa o SUBE, que é o pagamento no transporte público por meio de cartão (como o Bilhete Único). Minha recomendação para o turista é adquirir este cartão, que está na faixa de 20 pesos (R$ 5,75) em um dos seguintes lugares do mapa de centros de obtenção do SUBE. Caso contrário, a tarifa é maior e o pagamento é em moedas de até 1 peso. Mas é muito difícil juntar moeda aqui. Tanto que nos mercados sempre arredondam os centavos.

– Sobre o valor da tarifa
A tarifa em Buenos Aires varia conforme a distância a ser percorrida. Por isso, subimos no ônibus e falamos para o motorista até onde queremos ir para saber o valor da tarifa ou, se já sabemos, falamos diretamente o valor. Para turista, recomendo dizer o destino, inclusive para poder confirmar o sentido do ônibus e se aquela linha realmente passa lá. As tarifas são as seguintes (preços e cotação oficial de outubro de 2014):

Até 3 km: 3 pesos (R$ 0,86)
3 a 6 km: 3,25 pesos (R$ 0,93)
6 a 12 km: 3,50 pesos (R$ 1)
12 a 27 km: 4 pesos (R$ 1,15)
Mais de 27 km: 4,70 pesos (R$ 1,35)

Sem SUBE, a tarifa é o dobro.

E para ver o itinerário dos ônibus, recomendo o seguinte site, da prefeitura de Buenos Aires, que permite colocar o local atual e o local de destino. Ou o GuiaT, que é um guia de bolso que funciona como mapa de páginas amarelas e pode ser comprado em bancas de jornais. Você procura a rua em que está e o guia aponta quais ônibus passam naquela rua ou nas ruas ao redor. Depois é só procurar o lugar de destino e ver quais linhas coincidem. Simples assim. Ideal para andar na rua, já que geralmente ninguém usa o 3G no celular em viagem para cá pelas altas taxas e nem sempre é fácil caçar um wifi.

Ah, e a maioria das linhas funcionam 24h por dia 😉

Como andar em Buenos Aires: de metrô

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Mapa do metrô de Buenos Aires. Clique para ver maior.

Muita gente que eu converso tem um certo receio de vir para Buenos Aires sem companhia com medo de se perder na cidade, ainda mais quando o turista não tem noção do espanhol. E sempre tento acalmar dizendo que é fácil andar por aqui (e todo mundo se vira no portunhol, gente, dá tudo certo). E é mesmo e vou mostrar isso em alguns posts.

Basicamente, não compensa (a não ser para quem quer mais conforto) ficar passeando pela cidade de táxi quando se pode fazer tudo a pé ou de transporte público. E boa parte dos principais pontos turísticos ficam perto de alguma estação do metrô, aqui chamado de Subte.

O metrô de Buenos Aires é bem antigo: a cidade foi pioneira na América Latina e inaugurou as primeiras estações há mais de 100 anos, em 1913. Eram da linha A, que, na época, ligava a Plaza de Mayo à Plaza Once (hoje Plaza Miserere). A linha B foi inaugurada em 1930, a C em 1934, a D em 1937 e a E em 1944. Para se ter uma ideia, o metrô de São Paulo, o mais antigo do Brasil, só foi inaugurado em 1974. Após as inaugurações, as linhas foram passando por prolongamentos. Já em 2007 foi a vez da linha mais moderna do sistema, a H, entrar em operação.

A linha A sendo construída, em 1912. No fundo, o Congresso. Foto: Archivo General de la Nación (AGN)

O metrô daqui é estranho para quem chega do Brasil: tem um cheiro forte, quase todas as linhas circulam com trens mais antigos. Mas é bastante funcional, atendendo boa parte dos bairros e dos pontos turísticos. E o preço da passagem é muito em conta: 5 pesos (R$ 1,42 pela cotação oficial de setembro de 2014). Para quem tem o SUBE, que é o cartão usado nos transportes daqui, é ainda mais barato: 4,50 pesos (R$ 1,28). Para o fim de 2014 é esperado um aumento, mas ainda seguirá bem abaixo do valor dos metrôs do Brasil.

O horário de funcionamento é meio restrito: de segunda a sábado das 5h às 23h e domingos e feriados das 8h às 22h30. Portanto, olho no relógio para quem vai curtir a noite portenha, porque domingo pela manhã o metrô abre tarde. E, no caso da linha B, a vermelha, o horário é outro (provavelmente até março de 2015): de segunda a sexta das 6h às 21h, de sábado das 6h às 13h e a linha fica fechada de domingos e feriados, já que há obras de modernização da linha para colocar trens com ar condicionado.

Além deste mapa de linhas, eu ia fazer um post explicando por onde cada linha passa, levando em conta os pontos turísticos. Mas a Metrovías, empresa que controla o metrô de Buenos Aires, tem um mapa com as linhas, as ruas e os pontos turísticos próximos às estações. É o segundo; baixando é possível ler as informações perfeitamente: mapa do metrô de Buenos Aires com pontos turísticos.

E como usar o metrô de Buenos Aires?

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Entrada de estação – Foto: Wikipédia

As estações são sinalizadas com um círculo redondo escrito Subte, com a cor da linha. Abaixo, em letra maior, está o nome da estação e, embaixo disso, para que direção você vai ao entrar por aquela entrada da estação. No exemplo ao lado, a linha é a C, estação Retiro, sentido Constitución. E preste bem atenção nisso, é bem importante. Como as estações são antigas, você chega à plataforma e já há a linha de bloqueios (catracas). Portanto, no caso de errar o sentido, na maioria das estações é preciso sair da estação, atravessar a rua, e entrar pelo outro lado. Isso significa que, se você já passou da catraca, quase sempre terá que sair e pagar outra passagem.

Após isso, é como no Brasil: se tiver o cartão, basta apoiá-lo na catraca para cobrar o valor da passagem e, caso não tenha, basta ir à boletería e pedir o número de viagens que você quer fazer, que a pessoa do outro lado falará o valor correspondente. Caso seja necessário fazer alguma transferência de uma linha de metrô para outra (aqui a transferência é chamada de combinación), esta transferência é gratuita. Já ao mudar de metrô para trem é necessário pagar a passagem do metrô e, posteriormente, a do trem. Ou seja, mudança de linha no metrô é gratuita, mas de metrô para trem não.

O metrô é uma forma econômica e rápida de cruzar a cidade sem ter que gastar dezenas de pesos com táxi. Acho também que vale a experiência para estar em contato com a vida da cidade, e observar melhor os moradores. E tem mais uma vantagem: sempre tem alguém tocando alguma coisa. Só recomendo atenção com objetos para evitar furtos (ainda mais porque, quando somos turistas, tendemos a descuidar mais das coisas) e evitar o metrô nos horários de pico, de manhã e no fim da tarde, porque as linhas andam bem cheias e é um aperto como em qualquer grande cidade.

Feliz Primavera

Fim de tarde do sábado nos Bosques de Palermo - Foto: Fábio De Nittis

Fim de tarde do sábado nos Bosques de Palermo – Foto: Fábio De Nittis

 

Quando eu vivia em São Paulo, acompanhava alguns blogs daqui e nesta época todo mundo falava das celebrações do Dia da Primavera. No Brasil a gente nem percebe quando muda a estação, e aqui é notável e a primavera é amplamente comemorada.

E por quê? Porque aqui o inverno é longo, frio e constante. Em março, quando eu cheguei, já começavam as primeiras madrugadas de 7 ou 8 graus, o que significa que faz seis meses que está todo mundo enfrentando vento frio no rosto e colocando casaco todo dia. Agora no final de setembro as temperaturas já tem passado um pouquinho dos 20 graus em alguns dias de tarde, esquentando também os ânimos das pessoas normais (porque, por mim, após seis meses de frio, as temperaturas podiam continuar baixas mais um tempinho, talvez o resto dos tempos).

E agora chegou o famoso fim de semana da primavera. Na sexta-feira à noite, com termômetros ainda em 20 graus às nove da noite, as ruas estavam lotadas de pessoas andando, indo a restaurantes, fazendo fila na sorveteria, bebendo e rindo nas mesinhas colocadas na calçada. Caso o dia da primavera, comemorado aqui sempre em 21 de setembro, caia durante algum dia de semana, não há aulas para que as crianças e jovens possam aproveitar. No dia da primavera as tão frequentes florerías das calçadas portenhas vendem muito mais. Os parques lotam de pessoas de todas as idades, com amigos ou com família. Tudo fica mais cheio. É como se a cidade toda renascesse junto com as folhas.

A meia estação é bem gente boa com os portenhos. Permite aproveitar bem a cidade, já que não há nem aquele frio intenso do inverno, nem o calor de quase 40 graus que é quase que uma constante em janeiro aqui em Buenos Aires. E por isso, também, esta época entre agora e novembro é ótima para os turistas: por ser baixa temporada, os pontos turísticos ficam mais vazios. A cidade fica mais propícia para andar com o clima agradável, os passeios podem ser mais prolongados porque, embora a Argentina não adote horário de verão, em Buenos Aires a claridade já está se prolongando até depois 7 da noite. A vegetação volta às árvores e as flores rendem lindas fotos. A cidade está num astral muito mais leve e as pessoas parecem mais simpáticas.

Sendo assim, feliz primavera e aproveitem que a cidade está ótima.